Em mais um dia de ações de abordagem social a pessoas em situação de rua, na última quinta-feira (02), algo diferente chamou a atenção das equipes do programa “HumanizAção”. É que, entre as pessoas em situação de rua abordadas, estava também uma moça, muito jovem. Durante o atendimento realizado, logo se descobriu tratar-se de uma jovem com problema de dependência química.
Maria Eduarda, de apenas 18 anos, revelou à equipe sua dificuldade em se livrar do vício e, por isso mesmo, demonstrou interesse em receber ajuda e ser encaminhada a uma instituição de reabilitação. Quando foi oferecida uma vaga na unidade feminina do Grupo de Apoio e Combate a Droga e Álcool Santo Antônio (Grasa), que atua em parceria com a Prefeitura de Sorocaba, ela aceitou de imediato, tendo sido encaminhada, no mesmo dia, ao local.
“Comecei usando drogas quando tinha 12 anos, por influência de um ex-namorado. Ele era bem mais velho que eu e vivia me oferecendo. De início, eu não aceitava. Mas, um dia, tive curiosidade e resolvi experimentar. Primeiro maconha, depois cocaína, que passei a consumir em grandes quantidades. Até o dia em que experimentei também uma pedra de crack. A essa altura, eu já vivia nas ruas. A pessoa que me ofereceu pensou que eu já usasse a droga, porque eu menti e disse que fumava. E foi praticamente um caminho sem volta. Depois disso, passei por muita situação difícil. Em várias ocasiões, quiseram abusar de mim sexualmente, apanhei do meu ex-companheiro, muitas vezes, e fui até ameaçada de morte, mais de uma vez. Porque a vida nas ruas é terrível”, ela conta.
Pior que as ruas, no entanto, foi o período, de pouco mais de dois anos, que passou reclusa, na Fundação Casa, em São Paulo. A detenção aconteceu em decorrência das atividades ilícitas praticadas pelo ex-companheiro, das quais ela acabava sendo cúmplice.
Para a jovem, o que a fez ter motivação para buscar o tratamento é seu filho, de apenas um ano, cuja guarda ela acaba de perder, por ação do Conselho Tutelar. “Eu precisei entregar meu filho, mas não consigo viver sem ele. Por isso, estou disposta a fazer o que for preciso, inclusive sofrer com os efeitos da abstinência, para um dia poder tê-lo de volta comigo”, diz Maria Eduarda.
Além das dificuldades decorrentes do uso das drogas, a jovem também se ressente de ter arrastado seu atual companheiro e pai do seu filho para a mesma realidade. “Ele vivia me criticando por usar drogas. Queria muito que eu parasse com isso e me cuidasse. A gente vivia em uma casa, com a geladeira cheia, aluguel em dia, tudo certinho. Até o dia em que ele pediu para experimentar também. Fumou uma pedra de crack e nunca mais parou. Fomos perdendo tudo. Até ficarmos os dois nas ruas. Passamos fome os dois. Agora, ele resolveu se internar. Eu achava que não precisava disso. Que pararia quando eu quisesse. Mas vi que não, que seria bom eu me internar também, porque será a única forma de sair dessa e ter meu filho de volta”, ela completa, emocionada. A expectativa, agora, é que a jovem possa aproveitar essa nova oportunidade, recebendo todo o suporte especializado oferecido pelo Grasa, que, inclui, entre outras ações, atendimento em saúde e psicoterapêutico.
“HumanizAção”: há dois anos, oferecendo chances para uma nova vida
O Senhor José do Santos, de 64 anos, conhecido de muitos sorocabanos, que viveu quase 20 anos nas ruas do Centro da cidade, alimentando-se até de restos encontrados no lixo, teve a vida completamente transformada, após atendimento pelo programa municipal. Foi um dos primeiros casos a serem atendidos pelo “HumanizAção”, no início de 2021.
Após as abordagens especializadas, feitas de forma humanizada, Zé, como é conhecido, finalmente aceitou ser encaminhado para uma residência terapêutica do município, deixando de perambular pelas ruas, sem perspectiva, para, agora, trajar roupas asseadas e limpas, manter os cabelos e a barba feitos e, o mais importante, ter uma rotina de atividades, hábitos saudáveis e cuidados pessoais. Hoje, Zé fica feliz em exibir sua cama confortável e guarda-roupa cuidadosamente organizado, uma realidade que ele desconhecia até antes do atendimento pelo programa.
Mas esses são apenas alguns dos exemplos de pessoas que já tiveram suas histórias transformadas. Ao longo de seus dois anos de existência, em 2021 e 2022, o programa “HumanizAção” já realizou mais de 20 mil abordagens sociais especializadas a pessoas em situação de rua, as quais resultaram em mais de 16 mil oportunidades de acolhimento no Serviço de Obras Sociais (SOS), entidade parceria do município nessa iniciativa, que oferece alimentação completa, banho, toalhas e roupas limpas, além de alojamento para o pernoite a essas pessoas. Ainda, perto de 3 mil pessoas já puderam retornar ao lar de origem, seja em Sorocaba ou em outros municípios de procedência.
A população pode sempre colaborar com as atividades do “HumanizAção”, informando os locais onde haja pessoas em situação de rua necessitando de ajuda. O contato pode ser feito pelo WhatsApp: (15) 99666-2636, disponível 24h por dia, ou pelos telefones: (15) 3229-0777, do SOS; (15) 3212-6900, da Secid e 153, da Guarda Civil Municipal.
Fotos: Marcel Herrera/Secom